domingo, 12 de fevereiro de 2012

A História de um civil adiado – Ex-Militar do 4611/72

(Por Eduardo Veiga)




EduardoVeiga
O registo da minha história refere:
Eduardo Jorge Veiga
Soldado Nº Mec 093543-71
Incorporado: 27SET71 a 22NOV71 na CICA 2 Figueira da Foz
Especialidade: 22NOV71 a 23JAN72 RI 6 no Porto (Senhora da Hora)
Serviço efectivo: 23JAN72 a 4DEZ72 GCTA Grupo Comp.Trem Auto (Quartel Mestre General) Lisboa
Mobilizado para Angola a 4DEZ72 pelo RI 2 Onde nunca fui (entendo que fosse por o BCAÇ 3839 / CCAÇ 3343 pertencerem a essa unidade) e ao mesmo tempo mobilizado pelo RI 16 onde também nunca estive.
Adidos de Lisboa via Luanda a 18DEZ72 e CMR 113/Luanda a 19DEZ72
27DEZ72 Fui integrado no BCAÇ 3839 / CCAÇ 3343 localizado no AMBRIZETE (Missão Católica)
??/??/1972 Fui para a CMR 113 a aguardar recolocação e enviaram-me para o BCAÇ 4611/72 3ªCCAÇ em Serpa Pinto





Vamos então ao trajecto;

Não é pretensiosismo mas chegou a altura de deixar os fantasmas para trás e viver os dias em sossego, é uma história com um desafio que podia ser de qualquer um, mas esta é minha…
Não há insubstituível, mas eu sou, como eu não existe outro; ou se quisermos dizer de outra forma, não há insubstituíveis, mas não há repetíveis, fica à escolha.

Como é sabido da maioria dos que me conhecem, fui para Angola em rendição individual para o BCAÇ 3839, mais propriamente a CCAÇ 3343 situado no Ambrizete cujo aquartelamento se localizava dentro de uma igreja católica (missão) e foi com a minha chegada a terras africanas que começaram os temores de quem era amparo de Mãe, casado e aguardava um filho.
Com o tempo que já tinha de serviço militar não era provável que fosse mobilizado, porém, como é sabido a única certeza é a morte e nem essa tem hora e dia marcado.



BCAÇ3839 CCAÇ 3343 Ambrizete (missão) a Igreja era o dormitorio


Cheguei a Luanda no dia 19/12/1972, tendo-me apresentado na CMR113 (Companhia Metropolitana de Recompletamento 113) que ficava no RI-20, unidade dos naturais e a partir dali fui integrado no respectivo Batalhão 3839 Ccaç 3343

Ao chegar ao Ambrizete, passado algum tempo transferiram-me para a Musserra, localizada a Sul entre Ambrizete e Ambriz, em pleno interior, com mais 11 camaradas. Para quem não sabia o que era uma guerra de guerrilha o medo era constante, todos os pensamentos estavam com a minha mãe, mulher e filho, foram estes familiares que me obrigaram a olhar para dentro e dizer; “eu tenho que sair daqui porque alguém está à minha espera”.


Ambrizete. O Eduardo Veiga é o 4º a contar da esquerda, em pé
Foram meses em que a companhia real eram os camaradas e a incerteza do continuar vivo, SOBREVIVI a esta etapa,… outras se seguiriam.
Com o retorno à Metrópole do BCAÇ 3839 fui transferido para o BCAÇ 4611/72, mais propriamente para a 3ª CCAÇ e em boa hora aconteceu tal mudança (Deus por vezes parece que está a dormir mas dormita), porque para além de tudo, me permitiu conhecer amigos que ainda hoje permanecem na minha memória e não só.


Da CMR113, em Luanda, levaram-me ao machimbombo que fazia a ligação para Serpa Pinto com um stock de duas rações de combate (RR ou RC) uma G3 encontrando um machimbombo (autocarro) carregado de nativos locais, senti-me que nem um RAMBO, o exército tinha destas coisas que mais parecem saídas de um filme de 5ª.classe,… o que faria eu com a G3 num machimbombo com 50 nativos, galinhas, cabras e não sei que mais! Certamente que NADA!
No entanto houve uma situação que me tocou, pois digo-vos que quando o dito machimbombo parava os meus companheiros de viagem era a mim que vinham oferecer comida e bebida, (estou a escrever esta palavras comovido como devem calcular), pois eu estava em guerra com as pessoas que me tiravam os medos e me alimentavam dos meus receios.
Depois de dois dias de viagem de Luanda a Serpa Pinto com paragem em Silva Porto para pernoitar, para quem tinha tantos receios os mesmos deixaram de existir.
Finalmente cheguei a Serpa Pinto, hoje conhecida por Menongue, encontrando à minha espera, com um ar lisboeta, o Deodato. Fiquei mais descansado ao constatar que a minha colocação era numa cidade e mais agradado por ter sido bem aceite naquele grupo de camaradas.
Fiz APSIC’s com o Filipe e Elias, algumas operações, e nos MVL havia sempre pessoal que pedia para trocar (os meus medos eram reprimidos e vistos por outros como uma abstracção dos acontecimentos, quanto mais longe melhor) pois a permanência no quartel fazia-nos pensar mais.
Falava-se do que tinha acontecido ao Paiva, um acontecimento que marcou a companhia e ocorrido precisamente no dia do meu aniversário, uma coisa era real, não eram só os acidentes a que nós, condutores auto, estávamos sujeitos pois nas picadas, fossem no Ambrizete ou no Leste as minas também eram o pão-nosso de cada dia.
A diferença mais notada, nesta transição de companhias, era a relação com os superiores, pois de onde eu tinha vindo havia uma união mais forte, que na 3ª.Compª. só começou a acontecer a partir da nossa colocação no TABÍ.
A nossa rotação de Serpa Pinto para o TABÍ foi mais um episódio rocambolesco do Exército Português no ultramar, a mudança de uma companhia completa em carros civis sem apoio militar só podia ser estratégia do segredo.
No TABÍ, as coisas não eram tão simples, sentia-se o Norte, pessoas mais informadas e mais sofridas com a guerra, se não era bom para nós, para eles também não era melhor ou talvez fosse pior, as conversas deles eram sempre dirigidas ao acontecimento, os militares que não andavam distraídos davam por isso em conversas e até nos olhares.
Todos em surdina sentimos que não estávamos em Serpa Pinto, notou-se que todos éramos poucos para tanto de vigilância. Eu já tinha sentido aquele clima de “segurança” quando da minha passagem pelo Ambrizete, quando aí estivera anteriormente.
Ficou-me na memória um caso que já foi mencionado pelo Facas e vivido também pelo Deodato, em que o carro que eu devia levar a Luanda um Mercedes 322 não queria andar e o atraso custou a vida de outros (julgo da milicia) que não quiseram esperar. Ficámos sempre com a ideia de que a emboscada estava preparada para nós! Deus continuava a não dormir !!
Outros casos recordo, que se tornavam hilariantes; quando levávamos doentes ao hospital de Luanda íamos na célebre Mercedes 322, que gastava mais óleo que combustível, e como a lona estava em mau estado e a polícia militar podia mandar-nos parar íamos sem lona o que tinha como consequência que quem saia constipado chegava com pneumonia. Após deixarmos os doentes no hospital só tínhamos que esperar no AMAZONAS, que se encontrassem despachados.




Houve também um, este menos agradável, caso de tentativa de ataque no TABÍ. As operações neste sector eram mais cirúrgicas e com elevado grau de risco, para quem marchava e para os condutores pois as minas eram o que ninguém desejava e o rebentamento de uma podia ocorrer a qualquer momento. Cada regresso dos operacionais no terreno sem baixas era um alívio e uma alegria para todos, podíamos não dar por isso, mas hoje, é assim que sinto o contentamento de não ter acontecido nada a ninguém.
Outros haverá que mais coisas têm para contar, foi uma zona de muitas operações e muito devem ter por dizer os atiradores. DESCARREGUEM.
A saída para Cabinda, primeiro para o Subantando e depois para o Lucola como não podia deixar de ser, tinha que envolver mais qualquer coisa, ou não seria eu.
Estava de férias na Metrópole quando da rotação da companhia para Cabinda, e a confusão que deu até chegar ao Lucola? Tinha havido o 25 de Abril e o avião partiu sem os passageiros especiais Veiga e Deodato, chegámos com um dia de atraso a Luanda e logo ai começaram as complicações,… adidos com eles!!! Tínhamos de aguardar o transporte que ninguém sabia quando se processaria, e se não tivéssemos optado por embarcar por conta própria ainda hoje lá estávamos, à espera!!
Antes do Lucola ainda estive um dia não sei onde, possivelmente no Subantando, só depois é que fomos transferidos para a Roça Lucola. Era um local aprazível apesar das tendas que tinham como segurança o AR quente. Estávamos perto da cidade e o conflito era praticamente inexistente, limitando-se a nossa actividade a criar condições de habitabilidade no aquartelamento e efectuando uns patrulhamentos à cidade, chegando ainda a efectuar missões junto à fronteira com o Zaire.
Não foi por acaso que fomos para Cabinda, o território apesar de calmo podia comparar-se a um vulcão pronto a entrar em actividade e o pior estava por vir, e aí sim, ao fim de tanto tempo no teatro da guerra sem que nada nos tivesse acontecido, surge uma rebelião que quase nos leva a actuar a sério. No fim da comissão voltavam os mesmos medos e temores de quando lá cheguei. Sobrevivi, outros inocentes que lá ficaram passaram as amarguras do terror de uma guerra feita pelos novos SENHORES DA GUERRA.

Não quero deixar de mencionar que até à minha ida para o serviço militar, a religião não me dizia absolutamente nada, mas alguma coisa havia que podem chamar de loucura, parvoíce, estupidez ou outros adjectivos, que me levaram a comprar uma Bíblia católica que li enquanto estive em Angola e que ainda hoje consulto. (Falo de religião, não de padres)
À minha Mãe esteja onde estiver, à minha mulher aos meus filhos aos meus netos e aos meus tios com 95 anos, agradeço ainda hoje a força, as palavras e a nova vida que me conseguiram transmitir e dar, a Deus agradeço poder partilhar estas minhas palavras convosco.

Um Abraço muito grande
Eduardo Jorge Veiga


Eduardo Veiga e esposa









3839 Cuango69
Secção Auto Missão

Musserra

Musserra Cond.Veiga,Fonseca,Oliveira e o seringas Araujo


Mussera


Mussera

Mussera
  
Nossa Senhora do Grafanil
 
Recordar o Grafanil

Excelentes condições militares no Grafanil

Caála









Facas ilusionista,Veiga,Arraiolos,Vitor



Ferreira 2ºE,Arraiolos mala,Dinis mala,Veiga mala,ao lado o Macedo barbeiro,atrás do Dinis o Macedo Mecânico

Gonçalves,Dias,Macedo,Silva,Clemente,Feitor,Acácio,Matão,Veiga,Melo

Jangada do Caíundo-Veiga,Gonçalves,Dinis



 
Em pé Esq, Acácio,Clemente,Veiga,Silva,Alves,Ferreira,Melo,Dias

Psico ao Caála.  Atrás está o Elias.




S.Pinto Lavagem de Estrada no Rio KWEBA

S.Pinto-Silva,Vitor,Ciríaco,Sancha,Veiga




Rotação de Serpa Pinto para a Fazenda Tabi

Transito de Serpa Pinto para Tabí  Alves,Dias,Gonçalves,Melo,Veiga o Dias e Gonçalves faleceram
Tabí e a 322 Mercedes
Fazennda Tabi
 


Lucola-Deodato,Veiga,Serrano




Cabinda - Locola

Cabinda - Maiombe

Cabinda - Fazenda Lucola


Saida de Cabinda

 
Regresso a Casa


BATALHÃO DE CAÇADORES 4611/72

BATALHÃO DE CAÇADORES 4611/72
conduta brava e em tudo distinta