sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

CONVÍVIO DA 3ª COMPANHIA - 3º CAPÍTULO

(Por Cristina Paiva Nobre)

"A emoção é sempre nova, mas as palavras usam-se desde sempre:
daí, a dificuldade de exprimir a emoção."

Victor Hugo


O Zé Paiva em Santa Margarida, antes de embarcar para Angola


Pretendo deixar algumas palavras a todos os “companheiros “que me receberam de uma forma muito agradável e sorridente naquele feliz encontro, na Martingança.
Começo com umas palavras que já são familiares e que escrevi ao Luís, no dia a seguir ao almoço, porque de facto, são as que realmente senti  e ainda sinto: “estou orgulhosa do meu tio, e mais do que nunca está no meu coração. No final do dia, no momento dos discursos, ponderei em agarrar no microfone e dedicar-vos umas palavras. No entanto, não me foi possível, estava demasiada emocionada”. Quando um coração se sente apertado, quando se sente um nó no estômago, quando as palavras não conseguem sair e quando as lágrimas chegam, quando todos estes sentimentos e sensações estão reunidos, tudo demonstra que a emoção está presente. Senti-me realmente emocionada e feliz. Feliz por ter dado “uma volta no passado” e perceber quem foi o meu tio, saber e ter descoberto que ele foi um verdadeiro Herói! Feliz igualmente por ter convivido com vocês. Todos fizeram e fazem parte da História de uma Pátria!
No passado fim-de-semana, contei toda esta história à minha mãe. A sós e com calma, disse-lhe que tinha uma bela história para lhe contar acerca do falecido irmão. Ficou apreensiva e com algum receio… Comecei por lhe contar como tudo começou e como quase do nada, cheguei a descobrir que o irmão foi um Herói, que o irmão salvou uma vida e passados quase 40 anos, o irmão tem amigos que pensam nele de uma forma emocionada e com orgulho.
Não omiti nenhum detalhe e com a ajuda de todos vocês, consegui relatar toda uma história à minha mãe. No final do meu relato, ambas ficámos emocionadas e uns segundos sem falar. Após uns instantes, perguntei-lhe como ela se sentia e o que achava de tudo o que lhe acabara de contar. Apenas me respondeu: “Tive um grande irmão, cheio de coragem, mas infelizmente partiu. Está nos nossos corações e olha por todos nós”. Concordo plenamente com a minha querida mãe.


Agora, pretendo dedicar umas palavras especiais ao meu Amigo, António Facas, que foi um verdadeiro Senhor e está, com muito carinho, no meu coração, pelas suas palavras e pela sua atitude. Pelas trocas de e-mails e pelo facto de ter conversado com o António, verifiquei que para além de um grande músico e excelente baterista, ele é igualmente um grande Homem! Gostei imenso de o conhecer. Tenho a certeza que onde quer que esteja o meu tio, ele está tão orgulhoso do António quanto eu! A amizade ganhou um outro sentido.
Ao Luís Marques, devo-lhe todo este percurso e chegada à meta. A sua ajuda foi muito preciosa. Obrigado Luís, pelo seu acompanhamento e amizade.
Ao Avelino Oliveira, agradeço o seu sorriso e relato emotivo de alguns factos do acidente. As emoções estiveram à flor da pele.
Ao António Moita, agradeço a iniciativa de, sem hesitações, ter dedicado o primeiro brinde ao Zé Paiva.
Ao Manuel Brazão, “o pai da noiva”, agradeço a sua simpatia e recolha de mais uns euros para, em conjunto, todos me terem oferecido o almoço.
Ao Fernando Moreira, agradeço a partilha das suas histórias e conhecimentos acerca dos “heróis da sua infância”. Ambos viemos “depois”, mas já nos sentimos como “da família”.
A TODOS, agradeço os vossos sorrisos, recepção, ajuda, esclarecimentos, bela partilha de emoções e almoço! :-)
Num próximo encontro, prometo dedicar-vos umas palavras a todos.
Merecem ser destacados e referidos como Heróis e Homens desta Nação.


Beijinho para todos! :-)

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

CONVÍVIO ANUAL DE 3ª COMPANHIA - 2ª CAPITULO

Por José Veiga (fotos)  e Luís Marques (texto)


Slide Show com as imagens do convívio

Os antigos militares presentes no convívio (a Helena Duarte e a Cristina Nobre, em representação do seu marido e tio, ambos já falecidos)

Foi no passado dia 26 de Novembro que os ex-militares da 3ª Companhia rumaram a Martingança, perto de Leiria, para participarem em mais um convívio anual, celebrando os 37 anos de regresso da sua comissão em Angola. A organização deste convívio foi, como vem sendo habitual, do Manuel Brazão.


Dois "artistas convidados" o Constantino e o Margalho




 "Olha este aqui tão só!..." É o Margalho...
Aspecto da sala onde decorreu o convívio, antes do "golpe de mão"


Estes bravos, tiveram a companhia de alguns ex-camaradas da 2ª Companhia e da C.C.S., os quais pretenderam fazer valer uma ideia defendida por muitos que aponta no sentido de olhar para estas celebrações como uma festa que deve englobar e reunir todos os ex-militares da Batalhão de Caçadores 4611/72, independentemente da Companhia em que prestaram serviço em Angola. Mas, sobretudo, quiseram conviver com os seus amigos da 3ª Companhia, seus amigos do passado, e que são mais amigos agora.
E nesse aspecto a 3ª Companhia, sem desprimor para as restantes, tem gente que é verdadeiramente especial. E sabe receber bem.
Já estive este ano no encontro anual da 2ª Companhia, em Vila do Conde, festa muito bem organizada pelo José Veiga, na qual estive acompanhado pelo José Manuel Francês e pelo Jaime Ferreira, todos nós da C.C.S., e fomos igualmente muito bem recebidos.







Este convívio anual da 3ª Companhia, teve ainda a participação muito especial da Cristina Paiva Nobre, sobrinha do malogrado soldado condutor José Almeida Paiva, a primeira vítima mortal da 3ª Companhia, falecido no dia 19 de Janeiro de 1973, em trágico acidente ocorrido em serviço.
A Cristina procurou saber junto dos antigos camaradas de seu tio as causas e as circunstâncias que envolveram a morte de seu tio, que nunca conheceu, pois nasceu alguns anos após a sua morte. E ao mesmo tempo obter informação de como era a sua vida por terras angolanas e conhecer os seus antigos companheiros da 3ª Companhia e, se possível, ver fotos do seu tio José Paiva.


A Cristina Paiva Nobre e o António Facas

A Cristina, pela sua simpatia e sorriso bonito, rapidamente se tornou num dos pólos de interesse do convívio e muitos foram os antigos companheiros do Zé Paiva que a elucidaram sobre a personalidade de seu tio e de tudo que envolveu o trágico acidente que o vitimou. A começar pelo António Facas, chefe da secção auto da 3ª Companhia, amigo de seu tio, e que transmitiu à Cristina Nobre toda a verdade sobre o acidente. Tal como o Avelino Oliveira, soldado que também participava na mesma coluna militar e que “viveu” o trágico acidente de bem perto e a tudo assistiu, incluindo à elevada coragem demonstrada pelo Zé Paiva que fez com que um outro militar, o também soldado condutor César Dias, se salvasse, embora tivesse sofrido graves ferimentos. Por tudo que ouviu sobre o seu tio e por ter ficado com a certeza que depois de tantos anos decorridos o seu tio não foi esquecido pelos seus camaradas de armas, a Cristina saiu de lá com o com um enorme contentamento por ser sobrinha do José Almeida Paiva. E com muito para contar à sua família, uma vez que à família nenhuma palavra foi dita por quem tinha esse dever, a não ser um lacónico telegrama e a entrega de um espólio, com os poucos bens materiais que o Zé levara para Angola.
Com a devida vénia, transcrevo parte de uma mensagem que a Cristina me enviou no dia seguinte ao convívio; "Posso dizer que mais do nunca estou orgulhosa do meu tio, e mais do que nunca está no meu coração. No final do dia, no momento dos discursos, ponderei em agarrar no microfone e dedicar-vos umas palavras. No entanto, não me foi possível, estava demasiada emocionada".
O gesto da Cristina Nobre, ao querer estar com os companheiro do seu tio e participar no seu convívio anual, deveria ser seguido por mais gente que teve familiares envolvidos na guerra colonial, para ouvir de viva vós como foi essa guerra. Para que a pátria nos não esqueça!

A nossa gente:

 António Moita e Margalho

 Zé Manel Francês e Armando Malheiro


 O "Voluntário"

 Roriz, Zé Veiga Francês e Malheiro

 Luís Marques e Roriz (a quem o Constantino disse: Olha o Einstein! Vocês acham-no parecido?)

 Zé Veiga

 Margalho....

 ... e mais Margalho (olha para a tua figura, rapaz!)

Zé Veiga e Helena Duarte

sábado, 3 de dezembro de 2011

REENCONTROS - MAIS UM CAPÍTULO

(Por Luís Marques)
"A recordação não tem apenas que ser precisa e exacta;
tem que ser também feliz"

Soren Kierkegaard







Ele era um bocado “mais velho” que a maioria de nós. Era da incorporação de 1969.
Ele, certo dia, antes de o conhecermos, “esqueceu-se” que tinha de se apresentar no Quartel onde estava colocado e andou uns tempos “desenfiado”, até que o tal “longo braço da lei” lhe deitou a mão e o colocou na C.C.S. do Batalhão de Caçadores 4611/72, com destino a Angola, às "terras do fim do mundo", para evitar que outras tentações o fizessem “escapar” aos seus deveres de militar.
Ele era soldado pintor auto e fazia parte de equipa da “ferrugem" da C.C.S.
O seu nome era (é!) Norberto Salvador dos Santos e era mais conhecido pelo "Pintas”. A alcunha tinha dois significados; um derivado da sua especialidade de pintor auto; o outro, quanto a mim mais adequado, por ser na verdade “um pintas”, pelo seu jeito gingão, pela sua vivacidade de pardal de telhado, como se fosse um puto de 10 anos, pelas suas constantes brincadeiras, pelo seu ar de “gozador” natural, mas de quem todos gostávamos. Um verdadeeiro "moinante"...
? Vocês estão a ver aquele género de lisboeta, gingão, malandro, com a pronúncia típica dos bairros populares de Lisboa de antigamente (anos 60 e 70), mas sempre com um “dichote” engraçado, uma brincadeira sempre pronta a sair? Pois esse “tunante” era personificado pelo Norberto, pelo “Pintas”...
E cantava o fado como os melhores fadistas…Muitas noites foram passadas na C.C.S. com o “Pintas” a cantar o fado, o Luís Moura Afonso e o Fernando Pinho a tocarem viola (não havia guitarra, paciência, mas a “coisa” resultava bem).
O “Pintas” fez amigos em toda a Companhia. Todos éramos amigos do "Pintas".
No final da comissão o comandante da C.C.S., o saudoso capitão Manuel Ferreira Júnior, atribuiu-lhe um louvor, que ajudou a “limpar” a mácula com que o seu “desenfianço” anterior manchara a sua caderneta militar. Tal aconteceu em Outubro de 1974 e o “Pintas” bem mereceu esse louvor.
Do “Pintas” ninguém mais soube, …Em todos os convívios anuais se perguntava: vocês sabem do “Pintas”? Nunca mais vi esse gajo!
Pois o “Pintas” apareceu finalmente. Ao fim de 37 anos chegou até nós através do Fórum 4611. No dia 1 deste mês de Dezembro entrou em contacto connosco através no nosso blogue (que assim mostra, mais uma vez, aquilo que tem sido essencialmente desde que foi iniciado em Abril de 2008: um farol que guia e trás até junto desta grande família que é o 4611/72 todos aqueles que desde a desmobilização em Dezembro de 1974 andaram “perdidos” sem saber dos seus antigos camaradas de armas, bem como outras pessoas que têm qualquer vínculo connosco, ou com qualquer de nós). Entrou em contacto connosco e enviando a seguinte mensagem:
Venho anunciar a todos que ainda estou VIVINHO DA SILVA! O meu nome é Norberto Salvador dos Santos, a alcunha é o "Pintas", que desertou e depois foi de avião com todos vocês...Aguardo com muita saudade por notícias vossas. Estive convosco em M’pupa, Caxito (Fazenda Tentativa) e Cabinda de 1972-74. Contacto: 212431863 ou 265413366.
P.S : O nosso Capitão da Companhia era o Sr. Ferreira Júnior (alcunha "deitem lá sentido”)”

Pois é, o “Pintas” deu finalmente com a malta, Agora não o vamos largar…Queremos ver se ele ainda canta o fado como naquele tempo e se mantém o seu jeito gingão, se continua a ser um "moinante", se continua aquele “pardal de telhado”, vivaço como um puto de 10 anos.


O "Pintas" em 1973

 O Norberto Salvador dos Santos," Pintas", actualmente, com o neto ao colo.


BATALHÃO DE CAÇADORES 4611/72

BATALHÃO DE CAÇADORES 4611/72
conduta brava e em tudo distinta