quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

A 3ª Companhia no Cuando Cubango

(Por Abílio Hermenegildo)

Há dias encontrei uns mapas na Net dos distritos por onde andou o Batalhão de Caçadores 4611/72. Como achei interessante e está muito detalhado não quero deixar de partilhá-lo. O que está inserido nos mapas não foi nada feito por mim pois tudo que lá está já existia. Como introdução a este trabalho,  fica aqui o mapa do o Distrito do Cuando Cubango.

(nota: clica nas fotos para as aumentar)


Distrito do Cuando Cubango, Angola
Quartel em Serpa Pinto dia 7 de Janeiro de 1973. 

Se não me engano esta foi a primeira saída do 4º grupo de combata após a chegada a Serpa Pinto.
Para testar a bravura destes combatentes, foi logo para uma operação em Vila Nova da Armada onde estava o aquartelamento dos fuzileiros. Nesta altura penso que estava lá a companhia nº 3 de fuzileiros da armada portuguesa. Nesta operação também foi o 1º grupo. As fotos foram tiradas às 6 horas da manhã, a porta que se vê é a entrada para a arrecadação de material de guerra e aquartelamento onde estavam o Ciríaco, o Sancha e o Melo.

Partida no dia 7 de Janeiro de 1973 para Vila Nova da Armada

No mesmo dia, eu e o Rodrigues

Vista aérea de Vila Nova da Armada

Vista geral de Vila Nova da Armada

Após a operação em Vila Nova da Armada, regressámos a Serpa Pinto no dia 19 de Janeiro de 1973, pelo meio-dia,  e a seguir a um excelente banho já estava pronto para ir almoçar ao restaurante.


Regesso a Serpa Pinto no dia 19 de Janeiro de 1973

Partida do Quartel de Serpa Pinto para o primeiro M.V.L., em 2 de Fevereiro de 1973.
Percurso:  Serpa Pinto, Longa, Cuito Canavale, Mavinga, Nriquinha e Rivungo, cerca de 19 dias, ida e volta

Quartel em Serpa Pinto, 2 de Fevereiro de 1973
O Eduardo Pinto a acender-me o cigarro

Dias  7, 8 9 e 10 de Março de 1973.

Mais uma operação do 4º grupo em conjunto com o 1º grupo.


7 de Março de 1973 - Foto tirada ao fim da tarde do primeiro dia da operação
Um curto descanso para depois nos aproximarmos da mata para pernoitar

8 de Março de 1973 - Foto tirada durante a manhã.
Mais uma chana que levou um dia a atravessar

8 de Março de 1973 - Mais uma paragem para abastecimento de água numa lagoa
Tínhamos de percorrer esta chana até chegarmos onde se avista a mata mais cerrada, quase na linha do horizonte, para depois pernoitar

10 de Março de 1973 - Enfermeiro Gomes e eu
Quando era possível durante a operação procurava-se locais mais abrigados como este para almoçar ou descansar. O mesmo acontecia para pernoitar. Aqui mais satisfeitos porque estávamos prestes a ser recolhidos para regressar.



Quartel em Serpa Pinto, fins de Março de 1973
Ao lado da Secretaria da 3ª Companhia do Batalhão de Caçadores 4611/72

Num determinado fim-de-semana em Maio de 1973 fomos (eu o Almeida e o Leal) fazer um piquenique. No saco como não podia deixar de ser algo para se comer e beber, devo dizer que foi um dia bem passado
Maio de 1973 - o Almeida e eu (o Leal a tirar a foto)

Maio de 1973
Já a tomarmos uma bela banhoca no rio
(da esqª para a dtª: Almeida, Leal e A. Hermenegildo)

Quartel em Serpa Pinto
Da esqª para a Dtª: Dinis, Leal e Valongo (Valongo. era assim que o tratávamos por ser desta zona)
Eu fui o fotógrafo

Esta é a 1ª série de fotos e de algumas passagens que guardo com recordação durante a minha vivência com a 3ª Companhia do Batalhão de Caçadores 4611/1972. Outras seguirão em breve, continuação de Serpa Pinto, depois da Fazenda Tabi e por fim em Cabinda.

Um grande abraço para todos
A. Hermenegildo


P.s. Há dias estive a falar ao telefone com o ex-cabo Joaquim Ribeiro Pinheiro, que era do 1º Grupo. Ele pediu-me que transmitisse um grande abraço para todos, pois não tem tnternet e não pode visitar o blogue. Vive a 7 Kms de Braga, na estrada que vai para o Gerês ou Vila Verde. Foi há tempos operado ao colo di fémur e vai ter de ser novamente operado à mesma coisa, mas na outra perna.

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

A VERDADEIRA ESTÓRIA.......A BOMBA

(Por Jorge Correia)
Parte I - 1º Ano em Serpa Pinto
Campo Militar de Santa Margarida, 25 de Novembro de 1972

Entrada do Campo Militar de Santa Margarida


 A igreja da base Militar de Santa Margarida, que ficava no final da extensa avenida

O pessoal da 3ª companhia do Batalhão de Caçadores 4611, parte em autocarro, para o aeroporto de Figo Maduro a fim de embarcar com destino a Angola para uma comissão de serviço.
Durante o percurso o pessoal segue em silêncio, circunspecto, já não mais é possível disfarçar aquilo que nos vai na alma, a apreensão pela nossa nova realidade, afinal de contas não era para menos, íamos apenas e só para a GUERRA !!!
O que até aqui, com alguma imaginação se poderia considerar estarmos num estágio, onde fazíamos exercícios físicos e praticávamos técnicas de tiro e outras, com acampamentos no campo de vez em quando, indo ao fim de semana ver a família, tinha chegado ao fim, agora era a sério.
Chegados ao aeroporto, mais uma prova de fogo, o convívio com a família, as despedidas inevitavelmente emocionais, comoventes, a contenção de ambas as partes para preservar o psíquico que se pretendia estável.

Aeroporto militar de Figo Maduro em Lisboa

Éramos jovens, muito jovens mesmo, apesar de tudo encarávamos o futuro com confiança e com a força de sentirmos que constituiríamos uma família dali para a frente, enfrentámos o desafio que o destino nos oferecia.
Imagem de Luanda em 1972

Chegados a Luanda, ainda no avião, sente-se o cheiro forte da terra vermelha, uma realidade diferente, nova, que nos predispõe para a descoberta. E é isso mesmo que vamos fazer!
Imagem do Grafanil, em Luanda

Vamos ao Grafanil levar o pessoal e partimos para Luanda, dispostos a conhecer a cidade, visitamos e frequentamos cafés, bares, boites, clubes nocturnos mais ou menos afamados, a menina Alice, a Barracuda, a Ilha, comemos o delicioso camarão de Angola, iniciamos enfim uma maratona de grande solidariedade e comunhão entre todos.
Passada uma semana, partimos em comboio automóvel (Berliet´s) para Serpa Pinto, cidade onde ficaríamos durante um ano. Estávamos animados, iríamos ficar estacionados numa cidade, não conhecíamos, mas não importava, era uma cidade, teria certamente algum tipo de estruturas que nos ajudaria a passar o tempo da melhor forma possível.
Realmente assim aconteceu, Serpa Pinto agradou-nos muito, lembro que assim que chegámos assistimos a certa e normal (penso eu) desorganização, ou seria a desorganização, organizada ? não sei mas também não interessa nada. O que sei, é que no primeiro dia, devido ao atrasado da hora e à tal desorganização, eu o Figueira e o Moita dirigimo-nos ao melhor Hotel da cidade (era novo) e pernoitámos nele com a intenção de no dia seguinte então sim, com mais calma vermos onde nos iríamos instalar. Claro que o Figueira tinha o destino traçado, lá teria que ir para a messe dos oficiais aturar os chatos militarões do Capitão, do Major e do Tenente-Coronel, o top 3 do nosso Batalhão, dignos mandatários do regime fascista.


Imagem de Serpa Pinto

Eu e o Moita temos entretanto conhecimento que além da messe de sargentos existe um Clube, um Clube de Sargentos, onde não há sargentos, só furriéis milicianos,...ora cá está...pensamos nós...é mesmo aí que nós vamos ficar, longe dos Sorjas. Uma beleza, um edifício de dois andares (ou três?), soberbo, com um bar no primeiro piso e quartos de dois a três camas, com faxineiro, um luxo, com vista para o rio e na mesma avenida onde também residia mais à frente o Brigadeiro, comandante de sector.
O Clube de Sargentos em Serpa Pinto
Começámos imediatamente a nossa vida social, no dia seguinte vamos ao cinema, o cinema Luiana e penso que nessa mesma noite temos conhecimento que daí a dois dias vamos alinhar num MVL o 1º grupo era o primeiro a alinhar, mas nós até preferíamos assim. Lembro-me que foi connosco um Alferes chefe da secção Auto do comando de sector. Nesse primeiro MVL os carros e os condutores foram do comando de sector, pois os nossos ainda não estavam operacionais. O enfermeiro que alinhou foi o Salgado, lembro-me que fomos durante algum do percurso na mesma Berliet e para descomprimir ele foi-me contando um pouco da sua vida até ali,...fiquei a saber que já era casado e era vendedor de automóveis.

Imagem do Aquartelamento do Rivungo, no Cuando Cubango

Reabastecimento por um Dakota no Destacamento do Luiana

Resumindo, não estarei longe da verdade se disser que nesse ano que passámos em Serpa Pinto, fiz uns 4 MVL para o Rivungo, passando por Cuito Cuanalave, Mavinga, Dima, N´rriquinha e Rivungo, 1 para o Calai, 3 operações, além de 3 meses no destacamento do Luiana. Foi um ano e tanto! Na cidade desfrutávamos de todas as condições para recuperar destas aventuras. Almoçávamos normalmente em restaurantes, íamos ao cinema e ás sextas-feiras era sagrado, era dia da chegada do comboio que vinha de MOÇÂMEDES que trazia o afamado caranguejo do mesmo nome que normalmente acabava na mesma noite. Na última noite em Serpa Pinto, nesse bar do caranguejo, estava com Vidigal, Fernandes e Lopes e mais dois furriéis do comando de sector. Noutra mesa o sargento do Dima com uma miúda que conhecíamos em Serpa Pinto,....não me lembro muito bem qual foi a causa, só sei que o gajo, o Sorja do Dima sem se me dirigir, disse ao Vidigal que me ia dar uma porrada e que estaria presente no dia seguinte na nossa partida. Só sei que nessa noite com o Moita e com o Girão fomos dormir ao Hotel, de manhã fomos para o Quartel para seguirmos para o Tabi, novamente em comboio automóvel haá.......e o Sorja afinal não apareceu na nossa despedida !!!!!
EM BREVE A PARTE II - 2º ANO: 3 meses no Tabi - 5 em Cabinda e 3 em Luanda
NUM BLOGUE PERTO DE SI !

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Do Grafanil em Novembro de 1974 até hoje

(Por Abílio Hermenegildo)

Do Grafanil em Novembro de 1974 até hoje.

Saída do Grafanil no dia 8 de Novembro (que me corrijam se estiver enganado) juntamente com todos os outros que faziam parte do grupo de mesclagem.


Saída de Cabinda
(No dia 05/11/1974 às 16 horas estava neste batelão, encontro-me ao fundo de óculos escuros por trás de mim um rebocador que possivelmente seria o que levou o batelão até àfragata. Aqui o momento já era de bastante alegria por estar já mais perto da chegada a casa, mas por outro lado com alguma tristeza por deixar alguns amigos e amigas em Cabinda que nunca mais voltei a ver, a não ser umas moças  que reencontrei ao fim de 25 anos aqui em Angra do Heroísmo)


Seguimos em Berliet’s para Sá da Bandeira acompanhados, se a memória não me falha, pelo alferes Figueira e por dois furriéis, o Jorge Correia e Gomes. Depois duma longa viagem de 600 km, chegámos a Nova Lisboa à noite onde pernoitámos.
No dia seguinte, bem cedo, seguimos para Sá da Bandeira, mais 415 km andar debaixo dum intenso calor. Aqui chegámos ao início da tarde e acabámos (eu, o Leal e o Almeida) por ir almoçar numa tasquita ali próximo do quartel.
Lembro-me bem que o quartel estava deserto porque era um sábado (pela data do documento de passagem à disponibilidade devíamos ter chegado no dia 09/11/1974) e houve uma certa dificuldade para entregar o grupo ao oficial de dia, mas tudo se resolveu.
Depois das formalidades de entrega do grupo, fomos tratar do espólio do material e só no dia 11 de Novembro é que se começou a tratar dos papeis da passagem finalmente à disponibilidade.
A partir do momento que ficámos por nossa conta, foi uma correria pois andávamos todos eufóricos com a passagem à “peluda”.
Depois de cumpridas as formalidade do “adeus à tropa” em Sá da Bandeira no dia 14 de Novembro de 1974 (ainda tenho o documento religiosamente guardado que foi emitido no Batalhão de Caçadores que pertencia ao R. I. 22), regressei ao Lobito juntamente com o Leal.



(Como podem verificar o documento está também a ficar muito velhinho)



Quando se iniciaram os desentendimentos entre os movimentos de libertação MPLA – FNLA – UNITA (a partir talvez de Março de 1975) em várias zonas de Angola, incluindo o Lobito, começou então o êxodo, diria que quase maciço da população, e foi nessa altura que perdi o contacto do Leal. Ainda permaneci no Lobito até Outubro de 1975, pois sempre fiquei confiante que tudo acabasse em bem.
Mas a situação no Lobito estava a piorar assim como em quase toda a Angola e precisamente a 9 de Outubro quando embarquei juntamente com algumas dezenas de pessoas num pequeno barco de transporte de gado que saiu do Lobito ás 19horas para Luanda, numa viagem que durou quase 36 horas, visto que naquela altura era o único transporte disponível sem estar muito sob controle dos movimentos de libertação que dominavam a situação militar.
Chegado a Luanda, estava já combinado com pessoas amigas que foram ao porto de Luanda na calada da noite buscar-me e seguir escondido para o aeroporto de Luanda.
Aí fiquei cerca de 3 dias até conseguirem que fosse num voo da ponte aérea da TAP existente na altura.
Chegado a Lisboa talvez a 15 de Outubro de 1975 e até Novembro de 1979 vivi em Lisboa onde trabalhei num laboratório de engenharia civil na construção da auto-estrada Vila Franca de Xira/Aveiras de Cima. Durante este período que estive em Lisboa, logo no início de ter vindo de Angola, não sei como aconteceu, encontrei-me com o Gentil o Salgado e o Luís Silva (o Gentil deve-se lembrar em que sítio nos encontrámos e em que café).
A partir de 20 de Novembro de 1979 vim para os Açores pela Tecnovia para a fiscalização da construção dos aeroportos das Ilhas Graciosa S. Jorge e Pico assim como a ampliação da marina da Horta na Ilha do Faial. Mas em Junho de 1980 fui convidado para fazer parte do quadro técnico do Laboratório da Secretaria Regional do Equipamento Social na altura.
Em 1982, devido ao sismo de 1980 consegui vir para a Ilha Terceira para a cidade de Angra do Heroísmo, para montar um laboratório para a fiscalização da reconstrução e aqui fiquei a residir e a trabalhar. Entretanto casei.
Mais tarde acabei por sair e deixar de trabalhar no Laboratório de Engenharia Civil, porque concorri para a banca. A partir do dia 1 de Fevereiro de 1983 comecei a trabalhar na Caixa Geral de Depósitos onde permaneci até 30 de Dezembro de 2008 e a 31 de Dezembro passei novamente à “peluda” (risos). É verdade, 31 de Dezembro de 2008 foi o meu 1º dia de reformado. Tudo isto aconteceu porque fizeram uma sondagem para quem estaria interessado em antecipar a reforma. Nada tendo a perder, antes pelo contrário, reformei-me mais cedo 3 anos do que estava previsto. Aliás, estava mesmo a precisar de descansar um pouco, pois já andava bastante cansado e esgotado com imensos objectivos para cumprir e estava a ser uma tarefa muito difícil de realizar ultimamente.
E foi isto o que se passou desde a altura que vos deixei no Grafanil até hoje, muito resumidamente, apesar de estar a ficar já uma história muito longa.


Foto do 4º Grupo de Combate da 3ª Companhia, na Roça Lucola, em Cabinda
Um forte abraço para todos

BATALHÃO DE CAÇADORES 4611/72

BATALHÃO DE CAÇADORES 4611/72
conduta brava e em tudo distinta